quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Laborum Meta (a meta do trabalho)**

Por Alana Santos e Fabíola Abess
Uma câmera simples na mão e uma pauta para cobrir: o dia dos finados nos cemitérios de Manaus.
O que as pessoas fazem em um cemitério, além de acender velas e rezar pelos entes queridos?
Comercializam, pedem dinheiro, pregam, fazem um pouco de marketing político e pessoal…
- Areeeiiiiiiiaaaa…
- Cocaaaaaa, fantaaaaa, águaaaaaa…

O cemitério
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O Cemitério São João Batista foi inaugurado em 5 de abril de 1891 pelo médico Aprígio Martins de Menezes, sepultado no dia 19 do mesmo mês.
Em 1905, o Superintendente Municipal Adolpho Lisboa mandou construir um muro de alvenaria, um gradil e pórticos de ferro fundido, fabricados em Glasgow, na Escócia.
GARCIA, Etelvina. Manaus, Referências da História: 2ª edição revisada. Manaus. Editora Norma. 2005.
A beleza do mórbido
O cemitério está deixando de ser apenas um local visitado pelas pessoas que perderam um ente querido. Há uma importância cultural e arquitetônica, porque lá estão sepultadas figuras importantes da política, das artes e da cultura de um lugar, assim como as construções que identificam uma época.
Alguns cemitérios já estão inseridos nos roteiros turísticos de algumas cidades, como o cemitério Père Lachaise em Paris, e o Cemitério Nacional de Arlington, em Washington, onde estão os túmulos dos soldados mortos nos combates das duas grandes guerras mundiais e do Presidente John Kennedy. Em São Paulo, o túmulo de Ayrton Senna é visitado pelos turistas que chegam à cidade.
Na Baricéa não é diferente. Há um projeto da prefeitura para transformar o cemitério São João Batista em um corredor cultural, com visita de turistas e estudantes. O objetivo é a educação patrimonial para a conservação dos bens.
Os gradis e os vitrais, assim como algumas sepulturas, já estão sendo restauradas. É possível encontrar beleza e valor em coisas que muitas vezes passam despercebidas. Lá você pode encontrar uma lápide, um túmulo e, principalmente, histórias bem interessantes.
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O rabino
O blog Baricéa Desvairada encontrou o pesquisador Arieh Lins da USP, que estava entrevistando os visitantes do cemitério São João Batista. Ele está fazendo uma pesquisa de doutorado sobre a Emigração Judaica na Amazônia e contou um pouco da história do rabino Muyal.
O rabino Shalom Imanu – El Muyal morreu no dia 12 de março de 1910 em Manaus. O rabino morreu de febre amarela e, como na época não existia um cemitério israelita na cidade, foi sepultado no cemitério católico São João Batista.
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Depois de alguns anos, placas começaram a aparecer na sepultura do rabino para agradecer por graças alcançadas. Com o tempo, o costume judaico de colocar uma pedra sobre a sepultura também foi adotado, por causa disso a comunidade judaica percebeu que El Muyal tinha virado um santo para os católicos de Manaus.
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Em 1980, o sobrinho do rabino, Eliahu Muyal, membro do Parlamento de Israel e Vice Ministro dos Transportes, tentou transferir os restos mortais do tio para Israel através do professor Samuel Benchimol, presidente da comunidade israelita no Amazonas. Mas o pedido não foi aprovado. A transferência do corpo do rabino poderia causar uma revolta na população católica da época.
Outros personagens
A santa
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Etelvina nasceu no Ceará e veio para Manaus com o pai, na época da extração da borracha, entre 1860 e 1910. Ela foi assassinada por um homem que, em seguida, cometeu suicídio. Ele era apaixonado por Etelvina. Os corpos foram encontrados em forma de cruz. Santa Etelvina nunca foi canonizada pela Igreja Católica.
A foliã
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Ária Ramos foi uma violinista no periodo áureo da borracha. Ela foi assassinada, acidentalmente, em 1915, em um baile no Ideal Clube, em Manaus. Um dos rapazes apaixonados por ela começou a brigar com o outro, quando tirou uma arma e disparou, atingindo por engano Ária Ramos. Ela foi enterrada no cemitério São João Batista e uma estátua foi erguida no local.

**Laborum Meta: inscrição encontrada no pórtico do cemitério São João Batista.

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