quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Por que cobrir a cabeça?

A kipá nos identifica como judeus aos olhos de todos transmitindo a mensagem de que "pertencemos" a algo e a Alguém: D’us!

Por Aron Moss                                              

Pergunta:

Eu gostaria de fazer-lhe uma pergunta sobre cobrir a cabeça com uma kipá ou um chapéu. Deixe-me primeiro dizer que não pretendo ser desrespeitoso. Minha pergunta é a seguinte: se eu sei que cobrir a cabeça significa reconhecer que D’us está acima de mim, por que preciso realmente cobrir a cabeça, pois já sei que Ele está acima de mim em minha mente e coração?

Resposta:

Primeiro, fazer uma pergunta sincera jamais é desrespeitoso.

A kipá é um pouco como uma aliança de casamento. A aliança é um sinal de que você pertence a alguém. Então, se você pensa no seu ente querido o tempo todo, não precisa mais usar a aliança? A aliança é usada somente até um amar o outro o bastante para não precisar de um lembrete? Claro que não, porque:

1 – Só porque você "sabe" que é casado, isso não significa que você não vai "esquecer" quando as tentações surgirem.

2 – O anel não é apenas um símbolo para quem o usa. Também transmite uma mensagem a todos que o vêem. Todos devem saber que esta pessoa pertence a uma outra.

3 – Se você vê o casamento como um fardo, então você usa a aliança como uma bola com corrente no pé. Mas se você está em um relacionamento profundo e verdadeiro, então você usa o anel com orgulho, porque a própria existência do anel significa que existe alguém que o ama mais que tudo no mundo.

O mesmo ocorre com a kipá.

1 – Somente uma pessoa muito sagrada poderia estar consciente de D’us o tempo todo. O restante de nós (homens) precisa de algo muito concreto para nos lembrar que Ele está sempre ali.

2 – Serve também para nos identificar como judeus aos olhos de todos ao nosso redor, de que "pertencemos" a algo e a Alguém.

3 – E nós o usamos com orgulho, porque o povo judeu tem um relacionamento profundo e amoroso com D’us. O verdadeiro amor está com você o tempo todo. E você quer contar ao mundo!

Pergunta:

Gostei da explicação sobre a kipá, mas porque então somente os homens usam kipot? Como as mulheres se identificam como judias aos olhos daqueles em volta?

Rabi Moss:

No e-mail, eu enfatizei a beleza de usar uma kipá. Mas no final, é um sinal de fraqueza. Somente porque a espiritualidade é alheia a nós, precisamos de um lembrete concreto dela. Segundo a Cabalá, a alma feminina está mais sintonizada com estas coisas e portanto não precisa de algo tão superficial para lembrá-la de sua conexão inata com D’us. É por isso que os homens precisam de mais cerimônia e rituais que as mulheres (como talit, tefilin, chamadas à Torá). Os homens são mais físicos e grosseiros (concorda?). Sem o ritual, a espiritualidade é abstrata demais para os homens entenderem. Uma mulher é mais sensível àquilo que é sagrado e sublime, e portanto não precisa de tantos rituais para expressar sua conexão de alma.

A propósito, isso não é uma tentativa de proteger mulheres ou de mudar idéias judaicas para serem mais modernas e aceitáveis. É um conceito antigo, escrito pelos místicos há milhares de anos.

Pergunta:

Muito interessante, sua explicação. E de forma alguma achei que estava protegendo as mulheres. Na verdade, foi o oposto. O estudo da Lei Judaica abriu meus olhos para o grande respeito que o Judaísmo tem pelas mulheres.

Mas você também escreveu que a kipá serve para nos identificar como judeus aos olhos dos outros. Se eu não estiver usando algo visível, como aqueles ao meu redor perceberão isso?

Rabi Moss:

Bem lembrado. Um homem precisa "anunciar" seu Judaísmo não tanto para as pessoas ao redor como para si mesmo. A espiritualidade masculina é agressiva e visível, e precisa ser mostrada. Esta é uma maneira de refinar o ego masculino. A espiritualidade feminina é mais interior e sutil, e seria comprometida se fosse anunciada.

A Kipá


O significado da palavra kipá é "arco", que fica compreensível quando pensamos em seu formato.

A kipá é um lembrete constante da presença de D'us. Relembra o homem de que existe alguém acima dele, de que há Alguém Maior que o está acompanhando em todos os lugares e está sempre o protegendo, como o arco, e o guiando. Onde quer que vá, o judeu estará sempre acompanhado de D'us.

Nossos sábios afirmam que cobrir a cabeça também está associado à humildade, pois nos lembra que existe algo acima de nossa cabeça (nosso intelecto): D'us.

A kipá deve estar sempre sobre a cabeça, lembrando que há alguém acima de nós observando todos nossos atos. Isso faz com que reflitamos mais sobre nosso comportamento e nossas ações.

O Talmud, no tratado de Shabat, traz a passagem, "Hicon licrat Elokecha Yisrael", "Prepare-te diante de seu D'us, Israel".

Baseado nesse versículo, nossos Sábios costumavam preparar-se no momento da prece demonstrando que estavam prestes a ter um encontro com o Rei dos Reis. O Talmud também ilustra este assunto trazendo a história de um menino que era cleptomaníaco. Porém pelo mérito de manter a cabeça sempre coberta e por ser muito zeloso seu mau instinto não conseguia se impor. Entretanto, quando, certa vez, o vento arrancou seu solidéu, imediatamente tornou-se vítima de sua cleptomania.

Isto pode ser aplicado em dois sentidos. Tanto numa situação em que o homem está prestes a fazer algo errado, a kipá está lá - mesmo que no fundo de sua consciência - lembrando que irá ter de prestar contas pelo seu ato. O mesmo ocorre numa situação em que a pessoa está em apuros: a kipá lhe relembra que Alguém está com ele, por mais perdido que se sinta.

• É costume judaico desde os primórdios um homem manter sua cabeça coberta o tempo todo, demonstrando com isso humildade perante D'us.
• É expressamente proibido entrar numa sinagoga, mencionar o nome Divino, recitar uma prece ou bênção, estudar Torá ou realizar qualquer ato religioso de cabeça descoberta.