| O calendário judaico é singular: cada mês contém uma mensagem especial o nos oferece sua própria energia para servirmos a D'us. O mês corrente, Elul, é conhecido como o mês do retorno – teshuvá. É o mês em que tentamos ser fiéis (especialmente com nós mesmos) e devolver tudo (especialmente nós mesmos) ao seu correto lugar espiritual. Portanto, é um mês de intensa introspecção e auto-correção. É também um mês de inventário e boas resoluções para o futuro. Porém apenas estudar este fenômeno e discuti-lo com amigos não basta. Ele precisa ser absorvido, embebido, interiorizado. Uma história para ilustrar: Todo ano, um certo chassid empreendia uma caminhada no início de Elul para visitar seu Rebe, Rabi Menachem Mendel (o terceiro Rebe de Chabad, conhecido como o Tsemach Tsedec) para com ele passar as Grandes Festas. Ora, esta não era uma tarefa fácil, pois o clima naquela época geralmente era congelante. Um ano, a jornada foi especialmente lenta, pois as ofertas de carona estavam esparsas e o tempo estava especialmente gelado, No meio da caminhada o chassid tinha despendido sua última reserva de energia, e estava a ponto de desistir e sentar-se à beira de uma estrada deserta e coberta de neve. De repente, porém, ouviu uma carroça se aproximando. Não demorou muito e a carroça, repleta de grandes barris, chegou até ele. "Quer uma carona?" gritou o condutor. "Suba e encontre um lugar." O chassid pulou para a carroça e espremeu-se entre os barris. Oh, como ficou grato pela carona! Porém sua gratidão não o manteve aquecido. Após alguns instantes aninhado no meio dos barris lembrou-se abruptamente que ainda estava congelando. Foi então que notou uma gota que pingava de um dos recipientes. "Talvez seja vodca", pensou consigo mesmo. Esticou o pescoço até conseguir alcançar a abertura do barril. Era vodca, sem dúvida! "Ivan!" gritou ele ao carroceiro. "Importa-se se eu provar um pouco da sua mercadoria, pois estou congelando aqui?" "Tudo bem!" gritou o condutor. Colocando a mão em concha sobre o furo, o chassid logo a encheu com vodca, recitou a bênção e bebeu do fogo líquido. Alguns goles mais e sentiu-se aquecido, e feliz! Estava indo visitar o Rebe! E D'us pessoalmente tinha feito um milagre para ele, enviando o carroceiro antes que congelasse até a morte! O chassid começou a cantar. Logo o carroceiro passou a cantar com ele e a viagem de dez horas passou num instante. Antes que se dessem conta tinham chegado a Lubavitch. O chassid foi direto à sinagoga do Rebe, onde começou a narrar aos seus amigos chassidim não apenas sua jornada, mas também aquilo que tinha aprendido com ela. "Os ensinamentos da Torá, até os ensinamentos chassídicos, podem ser comparados à vodca. Uma pessoa pode estar cercada por barris de ensinamentos chassídicos, por um mar de Torá, e ainda sentir frio, ao ponto de congelar até a morte. "Mas, se apenas um pouquinho vai para dentro", sorriu ele aos amigos. "então ele se torna quente e vivo! Na verdade, então, ele pode até aquecer também aqueles que o cercam!" E este é o propósito do mês de Elul: aceitar a Torá e o Judaísmo com o coração, sentir como são quentes, vivos e significativos. Adaptado de um artigo por Rabi Tuvia Bolton. Aconteceu Certa Vez Reb Daniel era o protótipo do "Litvak" (judeu de origem lituana) que morava na cidade sagrada de Jerusalém. A vida toda de Reb Daniel era devotada ao estudo de Torá, apesar da extrema pobreza que o assolava desde que deixara sua nativa Lomzha. Ele e a esposa criavam os sete filhos num apartamento dilapidado com dois cômodos. Mesmo assim, praticamente em todas as horas do dia podia-se encontrar Reb Daniel debruçado sobre um livro pesado. Raramente saía de casa. Todos os vizinhos de Daniel conheciam os seus hábitos, e o reconheciam como um grande erudito. De fato, a esposa de Reb Daniel contou a ele certa vez sobre a promessa que seu pai tinha arrancado dela antes de falecer; que ela sempre seria uma "ajudante" do marido, e jamais perturbaria seus estudos. A esposa de Reb Daniel era muito escrupulosa em cumprir os desejos do pai. Seu marido praticamente não era visto na rua. Jamais ia ao mercado comprar qualquer coisa. Raramente punha o pé fora de casa para respirar ar fresco. Era tão raro avistar-se Rebe Daniel que quando ele foi visto certo dia correndo pela praça com um enorme saco nos ombros, todos notaram. O que estava Reb Daniel fazendo ali, num local tão improvável? O fato é que no dia anterior, um vendedor ambulante tinha batido à porta de Reb Daniel vendendo roupas usadas. A esposa de Reb Daniel estava a ponto de comprar algumas peças quando o marido lembrou-lhe sobre a mitsvá de shatnes, a proibição de vestir roupas tecidas em lã e linho. Imediatamente, ela correu para procurar o vizinho, Reb Shmuel Zanvil, que era especialista nesses assuntos. Quando ele examinou as roupas e descobriu que de fato, algumas continham shatnes, ela decidiu desistir da compra e o mascate partiu. No dia seguinte aconteceu de Reb Daniel perguntar à mulher sobre as roupas, pois estivera mergulhado nos estudos na outra sala e não sabia como o problema fora resolvido. "Oh, havia shatnes nas roupas, portanto as devolvi", respondeu ela. "O quê?" gritou Reb Daniel, fugindo ao seu feitio geralmente calmo. "D'us não permita, mas é possível que um outro judeu sem saber as compre!" Correu porta afora em busca do ambulante, e finalmente o localizou na praça tentando vender suas mercadorias. Quando Reb Daniel soube que o mascate não tinha conseguido vender sequer uma peça, ficou tão aliviado que comprou o lote inteiro apenas para se livrar daquilo. (Isso, obviamente, não era um sacrifício pequeno, dada a situação financeira de Reb Daniel.) Era este tipo de pessoa piedosa que Reb Daniel era. Então um dia, as pessoas começaram a perceber uma súbita mudança nos hábitos de Reb Daniel. Por diversas vezes foi reconhecido entrando na casa do famoso Rabi Elazar Mendel de Lelov. Durante horas intermináveis os dois discutiam Torá… e Chassidut! E se isso não bastasse para intrigar as pessoas, Reb Daniel foi observado estudando um livro escrito por Rabi Nachum de Chernobyl, discípulo do Báal Shem Tov. As línguas começaram a funcionar. "O que está acontecendo com Reb Daniel?" perguntavam todos. "O nosso ascético Litvak de repente está se transformando num chassid?" Mais uma vez, foi a esposa de Reb Daniel quem explicou o que estava acontecendo. Alguns meses antes, Reb Daniel tinha começado a notar que sua visão estava falhando. Todos aqueles anos estudando as "letras minúsculas" começaram a cobrar seu tributo. A princípio ele quase conseguiu convencer-se de que era simples fadiga, mas com o passar dos dias ele viu que o problema era mais sério. Buscou a ajuda de diversos médicos e farmacêuticos, mas nenhum dos remédios ajudou. A esposa de Reb Daniel, que fora criada num lar chassídico, sugeriu de imediato que seu marido procurasse o grande Rabi Elazar Mendel para uma bênção, mas ela conhecia bem a atitude do marido para com os chassidim e tsadikim. Portanto, foi somente quando a visão se deteriorou ainda mais que ela decidiu tomar o problema nas mãos. Sem que o marido soubesse, ela foi à casa do tsadic e explicou a situação à Rebetsin, de quem era amiga, e pediu-lhe que intercedesse pelo marido. A Rebetsin bateu levemente à porta do marido, abriu-a um pouco e viu que ele estava no meio da prece. Desculpando-se pela interrupção, ela começou a relatar o problema de visão de Reb Daniel, quando ele balançou a cabeça. "Já sei", disse ele. "Eu sei." No dia seguinte, um emissário de Rabi Elazar Mendel foi à casa de Reb Daniel com um pacote. Dentro estava o livro Me'or Einayim [lit., "Luz dos Olhos"], a obra de Rabi Nachum de Chernobyl. Incluso também havia um bilhete de Rabi Elazar Mendel: "Estude uma porção desse livro sagrado todo dia, e prometo a você que a 'luz dos seus olhos' voltará". A princípio Reb Daniel estava hesitante, mas quando sua visão ficou ainda mais deficiente ele decidiu seguir o conselho do tsadic. Pouco dias depois, ele percebeu uma melhora. No decorrer do tempo, sua visão foi completamente restaurada. A partir daquele dia a atitude de Reb Daniel para com a Chassidut mudou dramaticamente. Tornou-se um ardente seguidor de Rabi Elazar Mendel, e sempre mantinha sobre sua mesa um exemplar de Me'or Einayim. Vivendo Com o Rebe – Porção Semanal da Torá O primeiro versículo da porção dessa semana da Torá, Ki Tetsê, parece conter um erro gramatical. "Quando empreenderes guerra contra os teus inimigos", começa, "e o Eterno teu D'us o entregar em tuas mãos". Por que a Torá inicia o versículo com o plural – inimigos – e continua no singular? Toda palavra na Torá é exata, toda letra transmitindo uma infinidade de significados que ensinam incontáveis lições. Este versículo, que aparentemente lida com o tema da guerra convencional, alude a um tipo diferente de guerra, uma guerra espiritual que é empreendida por todo indivíduo. Um judeu pode encarar dois tipos de inimigos: um que ameaça sua existência física, e outro que ameaça sua santidade especial como membro do povo judeu – sua alma judaica. A Torá usa a palavra "inimigos" referindo-se a essas duas ameaças, pois o corpo e a alma do judeu funcionam em uníssono, conectados em seu serviço ao Criador. Tudo aquilo que põe em perigo o bem-estar físico da pessoa ameaça seu equilíbrio espiritual, e vice versa. A Torá nos diz como emergir vitoriosos sobre os dois tipos de inimigo. "Quando empreenderes." Uma pessoa deve cingir-se com a força que vem da fé absoluta em D'us, mesmo antes de encontrar o inimigo. Em seguida, a abordagem deve ser de ascendência – "contra (lit., 'acima') de seus inimigos." Saiba que o próprio D'us está ao seu lado e o ajuda em sua luta. Armado dessa maneira, a vitória está assegurada, não apenas contra os inimigos convencionais, mas contra a raiz de todo o mal – a má inclinação, igualada no Talmud com "o Satã (inimigo da alma) e o anjo da morte (inimigo do corpo físico)." Quando um judeu vai para a "guerra" fortalecido com o conhecimento de que não há no mundo força capaz de enfrentar a bondade e a santidade, não somente as manifestações externas do mal são vencidas, como também sua fonte espiritual é derrotada. A Torá, portanto, usa o singular – inimigo – para aludir à má inclinação, origem e protótipo de todo infortúnio. O versículo conclui com as palavras "e os farás cativos". Se um judeu não é cuidadoso e cai presa da má inclinação, todas as suas qualidades superiores, concedidas a ele por D'us para serem utilizadas para o bem, também caem na armadilha. A Torá ensina que o arrependimento sincero tem o poder de redimir estes prisioneiros cativos, elevando-os até que mesmo "as transgressões voluntárias sejam consideradas como méritos". Esta guerra aproxima Mashiach e a Redenção final, quando a má inclinação será totalmente dominada e a vitória sobre o pecado será permanente. Adaptado das obras do Rebe. O Rebe Escreve Tradução livre de uma carta do Rebe em 18 de Elul, 5735 (1985) O Talmud declara: "A primeira pessoa foi criada na véspera do Shabat. Por quê? Isso pode ser comparado a um rei que construiu um palácio, aperfeiçoou-o, organizou um banquete, e então convidou algumas pessoas… Assim é a maneira do Eterno, bendito seja, que criou o mundo inteiro com sabedoria e todas as necessidades mundanas (e então trouxe os convidados), ou seja, Adam e Chava. Porém, a Torá também declara: "O homem para o trabalho foi criado", e toda pessoa deve viver pelo credo "Fui criado para servir ao meu Criador." Como essas duas idéias contraditórias sobre o propósito do homem podem ser conciliadas? Se o homem é o "convidado" de D'us que encontra tudo pronto e preparado para ele, como pode ele ao mesmo tempo ser um "servo" que tem de servir constantemente a D'us, e com esforço real (trabalho)? Uma explicação para a contradição aparente é que a combinação das duas características provê uma instrução profundamente significativa na vida, no cotidiano, que se expressa em diversos aspectos. 1 – Era esperado de Adam e Chava – algo que é uma orientação para todo judeu, homem e mulher – que mesmo quando eles se encontraram numa situação como se estivessem num palácio real, com todos os requerimentos, mas também "a perfeição", e eles são convidados como hóspedes, cabe a eles fazer disso um serviço a D'us, o Criador de todo o universo. O grau mais alto desta realização é encontrado em Moshê, como nos diz a Torá. Pois, como a Torá atesta que "Nenhum outro profeta como Moshê surgiu em Israel, a quem D'us Se mostrou face a face", porém, quando ele atingiu seu grau mais elevado de perfeição, ou, como nossos Sábios disseram, quando ele atingiu o "qüinquagésimo portal de entendimento", ele ainda era "Moshê, servo de D'us". Por outro lado, como já foi muitas vezes enfatizado, um judeu serve a D'us não apenas através da prece, estudo de Torá e cumprindo mitsvot, mas também – para citar Rambam (Maimônides) – comendo e bebendo, em todas as suas ações, mesmo dormindo. Pois um judeu deve preparar-se antes de ir para a cama de maneira que seu sono seja elevado ao status de Divino serviço – o que é uma das razões, na verdade o conteúdo mais profundo, do Shemá antes de dormir. 2 – Um segundo aspecto, que da mesma forma tem de se expressar na vida diária, é que D'us deu a Adam e Chava – e através deles a todos os judeus, homens e mulheres, até o fim dos tempos – a capacidade de "servir", ou seja, de acrescentar alguma coisa ao "palácio" com todos os seus requerimentos, apesar do fato de que estes foram criados por D'us, com Divina sabedoria. Assim, não importa o quanto tudo esteja correndo bem para a pessoa, todos podem (e devem) levá-lo a um grau mais alto de perfeição, a ponto de – para citar a notável expressão com a qual a Torá descreve a contribuição do homem à Criação – tornar-se um "parceiro com o Eterno na obra da Criação". Em outras palavras, ele é capaz de contribuir tanto que a Torá, a Torah Emet (Torá da Verdade), o declara qualificado como um "parceiro". 3 – Tendo em mente os aspectos acima, todo judeu deve achar mais fácil fazer aquilo que deve ser feito para elevar-se ainda mais em todos os assuntos de Torá e mitsvot e Yiddishkeit (Judaísmo) em geral, em total concordância com o propósito do homem e destino na vida – Eu fui criado para servir ao meu Criador. Vamos todos considerar os maravilhosos poderes que D'us concedeu a todo judeu, até tornar-se um parceiro – não numa coisa pequena, ou uma só coisa, mas – no universo inteiro, criado pela sabedoria de D'us! 4 - A contribuição mencionada não pode ser atingida totalmente por meio de um serviço limitado e esporádico, feito em ocasiões especiais, ou em determinadas ocasiões, mas somente através de um estilo de vida que se expresse no serviço diário, consagrando todo ato, palavra e pensamento em prol do Céu, de acordo com os princípios de conhecê-Lo em todos os seus caminhos – para que a Divindade invada claramente todos os detalhes dos assuntos mundanos e, como foi dito acima, mesmo ao comer e beber, etc., num dia comum da semana. 5 - Na área de "para servir ao meu Criador" há a conhecida diretriz de servir a D'us com alegria, e também com profundo entusiasmo derivado da percepção de ser privilegiado por servir a D'us. Que D'us conceda sucesso a todos nos esforços para atingirem tudo que foi dito acima, com júbilo e prazer. Costumes Por que fazer caridade adicional no mês que precede Rosh Hashaná? Nestes dias, pedimos a D'us que olhe "caridosamente" para nossas ações do ano que passou. Como D'us responde às pessoas "na mesma moeda", fazemos mais caridade com aqueles que precisam. Além disso, ante de todos os feriados damos aos necessitados algum dinheiro extra para comida festiva e roupas. Quanto aos alimentos e roupas especificamente para Rosh Hashaná, a idéia é enfatizada no Livro de Nehemiah, que devemos "comer comida saborosa e tomar bebidas doces". Uma Palavra do Diretor Rabi Shemuel M. Butman O shofar é tocado durante o mês inteiro precedendo Rosh Hashaná (exceto na véspera de Rosh Hashaná), no próprio dia e durante os serviços finais de Yom Kipur. O toque do shofar nos comunica duas mensagens diferentes: é o som das trombetas anunciando a coroação do Rei e um sinal, como um alarme, lembrando-nos de considerar nossas ações passadas e retornarmos a D'us. Por que o shofar foi especificamente escolhido para estes dois propósitos? Até nos tempos antigos, existiam instrumentos musicais mais refinados produzindo sons mais elaborados. O shofar é um chifre de animal. Para quem já viu um shofar de perto, é evidente que mesmo limpo e polido, o shofar ainda se encontra num estado bruto. Foi refinado apenas minimamente. A preparação para Rosh Hashaná, e sua inauguração através do soar do chifre de um animal, nos ensina uma tremenda lição. Embora as pessoas sejam criaturas intelectuais e nosso intelecto seja uma das coisas que nos separam das outras criaturas, o intelecto não pode ser tudo e um fim em si mesmo. Quando se trata de aceitar D'us como nosso Governante, devemos fazê-lo com a submissão de um animal. Nosso retorno a D'us, também, é mais facilmente conseguido quando deixamos de lado nosso intelecto frio e calculista e em vez disso, confiamos em nossas qualidades mais simples, emotivas, primitivas e calorosas. |
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