segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Tefilin, talit, sidur e... durex!

Relato Por Steve Hyatt

Ainda me lembro do dia em que Rabi Vogel entrou no meu escritório em Wilmington com um grande pacote debaixo do braço. Com um sorriso no rosto, ele entregou-me e me pediu para abrir.

Com a alegria de um menino na primeira noite de Chanucá, rasguei o papel e ali, à minha frente, estava o mais lindo conjunto de talit, tefilin e sidur que eu já vira. Eram os mais bonitos porque eram meus.


Quatro meses antes, Rabi Vogel tinha me emprestado talit, tefilin e sidur para que eu pudesse rezar Shacharit em casa. Após rezar regularmente, informei ao Rabino que eu estava pronto para voar ‘solo” e perguntei se ele me ajudaria a comprar o meu próprio conjunto. Ele disse que levaria algumas semanas, mas ficaria honrado em ajudar-me.

Oh, que linda visão. O talit era enorme e de um branco que saltava aos olhos. O couro do sidur era brilhante e as páginas estalavam quando eu as virava. E o tefilin… ah, o tefilin era maravilhoso. O cheiro do couro era penetrante! Eu mal podia esperar até a manhã seguinte, quando poderia envolver-me no meu talit e tefilin pela primeira vez.


Eu estava tão empolgado que mal dormi aquela noite. Lembro-me de ter olhado pela janela, esperando o sol aparecer acima da linha do horizonte. Quando finalmente chegou a hora, corri escada abaixo e coloquei-os lentamente, saboreando cada momento! Depois de colocar o tefilin no braço e cabeça e recitar as bênçãos apropriadas, vi meu reflexo no espelho. Por um momento, fiquei surpreso, porque eu parecia exatamente o meu falecido avô Fritz Lobenstein. O mesmo tipo de cabeça, o mesmo cabelo farto e ondulado, o tefilin posicionado da mesma forma na cabeça e braço, eu poderia ter jurado que estava olhando para “Poppa”.De alguma forma, o simples ato de colocar meu talit e tefilin parecia nos aproximar. Senti-me repleto com uma sensação de calor e satisfação que era impossível descrever.


A princípio a família e os amigos estavam um pouco cépticos de que eu conseguiria me disciplinar e colocar tefilin e talit todas as manhãs. No entanto, desde o começo foi moleza! Disciplinar-me para cortar da minha dieta bolo de chocolate, batata frita e sorvete foi difícil. Mas levantar um pouco mais cedo pela manhã e rezar nunca foi um desafio. Descobri que recitar o Modê Ani logo que acordava, colocar tefilin e talit e rezar era uma experiência revigorante. Quando você começa o seu dia exatamente como seus antepassados têm feito há mais de 3 mil anos, não pode deixar de sentir-se conectado a eles, bem como cheio de energia, entusiasmado e pronto para o dia. Encontrei uma confiança e paz interior que jamais pensei ser possível.


Uma bênção em minha vida é meu trabalho. Ele me proporciona a maravilhosa oportunidade de visitar diversas regiões dos Estados Unidos. E onde quer que eu vá, meus “companheiros” constantes são meu talit, tefilin e sidur. No decorrer dos anos meus “companheiros” perderam parte do seu brilho original. O uso constante de certa forma empanou o brilho do meu talit. As correias do meu tefilin perderam um pouco do antigo esplendor e a capa do meu sidur está tão surrada que preciso cobri-la com fita adesiva para impedir que se desmanche.


Mesmo assim, estes velhos amigos me dão mais conforto e alegria hoje que quando o Rabino os trouxe para mim. Eles me confortaram durante alguns vôos perigosos, me deram confiança enquanto eu rezava em aeroportos lotados, e me trouxeram grande satisfação quando eu rezava com meus novos amigos nos Batei Chabad que frequentei pelo país. O uso diário tinha desgastado sua fachada original, mas a verdadeira beleza apenas aumentava com o passar do tempo.

Toda vez que eu coloco mais um pedaço de fita adesiva na capa do meu sidur, numa tentativa inútil de mantê-lo intacto, tenho uma sensação poderosa de realização. A cada vez que acordo numa cidade diferente e coloco meu tefilin, sei que Hashem está comigo e com Sua ajuda conseguirei vencer os desafios que surgirão naquele dia. O júbilo que resulta da reza com aquelas duas pequenas caixas pretas pela manhã é indescritível.


Quando eu era jovem e ajudava meu pai a tirar as ervas daninhas do jardim, costumava reclamar o dia inteiro sobre o trabalho que aquilo dava. Papai gostava, e sempre faz questão de dizer: “Isso é trabalho somente quando você sente que tem algum outro lugar para ir. Se você prefere estar aqui, o trabalho se transforma em diversão.” Levantar e colocar talit e tefilin é como estar no jardim com meu pai. Somente é difícil quando você sente que preferiria estar fazendo alguma outra coisa. De alguma forma, o próprio ato de colocá-los conecta você com sua neshamá, sua alma. Desde a primeira vez que você os coloca, sente que é o certo, e que é algo que deve fazer. Você pode sentir que é alguma coisa pela qual a sua alma clama. O próprio ato o acalma, ajuda a colocar a vida em perspectiva e provoca uma sensação de alegria e satisfação incomparáveis.


Mas não aceite só a minha palavra. Sou um Diretor de Recursos Humanos por profissão, não um homem de vendas. Faça algo maravilhoso por si mesmo. Procure o seu Rabino de Chabad local, pergunte a ele se pode lhe emprestar um par de tefilin, talit e sidur. Se você precisar de ajuda com o tefilin ele ficará feliz e entusiasmado em mostrar-lhe como colocar. Então coloque-os de domingo a sexta-feira durante duas semanas. Ao final da segunda semana você não terá vontade de devolvê-los. Na segunda-feira seguinte estará no telefone, pedindo ao Rabino que encomende os seus. E depois de algum tempo, quando você estiver colocando um pedaço durex na capa solta do seu sidur, saberá exatamente o que estou falando.


Vá em frente; dê aquele telefonema!

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