Coragem ou Covardia? Por Tzvi Freeman | ||||
Pouco depois dos ataques do 11/9, Bill Maher, em seu show “Politicamente Incorreto”, disse estas palavras: “Nós fomos os covardes. Aceitando mísseis disparados a três mil quilômetros de distância. Isso é covardia. Permanecer no avião quando ele atinge o prédio. Diga o que quiser a respeito. Não é covardia.” Maher se defendeu depois, dizendo que de maneira alguma teve a intenção de diminuir os militares americanos. Verdade seja dita, ele tem apoiado há muito tempo o exército americano. Apesar disso, não demorou muito para que várias empresas, incluindo FedEx e Sears Roebuck, tirassem seus anúncios do programa, e o show ficou com o custo maior que a receita. Inevitavelmente, a ABC decidiu não renovar o contrato de Maher para 2002. Deixando de lado as emoções e o poder dos anunciantes, isso responde à pergunta? Aqui estão pessoas que acreditam firmemente naquilo que estão fazendo, convencidas de que estão cumprindo a vontade de Alá e dispostas a sacrificar a vida pela causa. E aqui estão soldados americanos também colocando a vida em risco pela sua causa, igualmente acreditando na integridade do estilo americano que D'us abençoou. O que torna esses guerreiros covardes e estes heróis; esses terroristas e esses mártires? É apenas uma questão de qual lado eles estão, sua proximidade com o alvo, o quanto estão dispostos a arriscar – ou existe algo mais fundamental, uma diferença qualitativa? A questão não é apenas se gostamos de Maher ou não. A questão é sem dúvida a mais ardente da nossa época; se nós somos heróis, a civilização ocidental pode e vai durar. Se não somos, e eles são, então não há nada para nos impedir de agir como qualquer outra sociedade decadente em toda a história. As hordas bárbaras estão nos portões de Roma (já tendo atacado a maior parte da Europa) e é somente uma questão de tempo. Para isso eu gostaria de apresentar uma resposta bem simples, mas com implicações a longo alcance: para ser um mártir, você precisa querer mais viver do que morrer. Não há nada de heróico em entregar algo que você não valoriza. Não, Bill, não é a proximidade do seu alvo que faz de você um herói, ou sua proximidade imaginada de D'us que faz de você um mártir. É o valor que você dá à vida que D'us criou, incluindo a sua, que você está pondo em risco. “Freqüentemente o teste da coragem,” escreveu o dramaturgo francês Alfieri, “não é morrer, mas viver.” Vamos voltar um pouco. Tanto a civilização arábica quanto a ocidental encontram suas raízes num herói chamado Abraham. Nas vinhetas biográficas que nos são apresentadas no Gênesis, jamais vimos Abraham procurando o martírio. Se isso lhe foi exigido, ele estava preparado para tanto. Porém sua mensagem era de vida. Vida – aqui, agora, a dele e de todos os outros seres humanos, O D'us de Abraham não era um Criador distante, que tinha saído para fazer coisas maiores. O D'us de Abraham estava profundamente conectado com este mundo; um D'us de vida. Este é talvez o elemento mais significativo em sua barganha ousada com D'us em prol de Sodoma e Gomorra: assim como ele tinha posto a vida em risco perante o homem por D'us, agora ele se arrisca perante D'us em prol do homem. Não era simplesmente que há apenas Um D'us no céu e na terra, mas que este D'us é o “Juiz sobre toda a terra” e portanto, deve fazer justiça. Ele se preocupa com tudo que está acontecendo com Suas criaturas, e trata cada uma com justiça e compaixão. Que a vida, em outras palavras, é valorizada por Aquele que a criou. A descoberta de Abraham, então, foi tanto sobre a humanidade quanto sobre D'us. Além disso, para Abraham, os dois, monoteísmo e humanismo, estavam vitalmente entrelaçados. Sua preocupação com a vida humana era porque o Único Criador do céu e da terra soprou vida dentro de nós e se preocupava com ela. E seu monoteísmo iconoclasta era impulsionado pela mesma crença de que D'us cuida do Seu universo e das vidas que Ele colocou dentro dele, e portanto era heresia acreditar que Ele tivesse abandonado Sua administração nas mãos de semideuses. Em outras palavras, seu monoteísmo não era por alguma abstração filosófica, mas diretamente relacionado com sua convicção de que D'us se importa. Como eu escrevi, nem o Islã nem a civilização ocidental libertária estariam aqui sem o legado de Abraham. Mesmo assim, de alguma forma a mensagem se tornou analisável. Interessante, o Zohar e outros midrashim clássicos descrevem uma batalha escatológica entre o filho de Abraham Ishmael (o mundo árabe) e seu neto Esaú (Roma, e seu descendente, a civilização ocidental). Para pintar a história em pinceladas rápidas, parece a esta pequena mente que escreve agora que Ishmael aceitou D'us com a exclusão da humanidade, e a humanidade de Esaú sem necessidade de D'us. E sim, hoje Ishmael e Esaú estão em guerra. O que fica bastante confuso. Olhe para a ironia de Maher, que pôs tanta energia e ousadia na luta pelos direitos humanos, enquanto declarava simultaneamente que os guerreiros de Alá são heróis. A história se repete diariamente enquanto as vozes das liberdades civis e justiça universal defendem cegamente os regimes totalitários, impiedosos, contra Israel e abertamente emprestam a mão para o contágio do fascismo islâmico. É como se dois extremos procurassem se equilibrar, porém em vez de atingir uma mistura harmoniosa, cozinham um goulash incongruente, um falafel coberto de pimenta. É dentro desse harmonioso dueto de D'us e o homem, o divino e o terreno, transcendência e vida, que surgem os verdadeiros heróis – aqueles que colocam a vida em risco porque valorizam os direitos e a vida dos outros. É por isso que o humanismo liberal e estéril é um alvo certo perante o caos e o terror que hoje ameaça as civilizações. Não simplesmente porque não tem como entender a ameaça que enfrenta, ou porque não tem base firme para determinar o certo e o errado, mas porque, acima de tudo, é impotente para alimentar o heroísmo. A vida, para o humanista, é valiosa porque os seres humanos a valorizam. Se isso não é uma tautologia, o que é? E a corrupção crua e regressiva do Islã que enfrentamos hoje é pela própria natureza uma força do absoluto niilismo, talvez até o ateísmo de Stalin e Mao não fossem tão cancerosos como a adoração a um D'us para quem a vida começa somente através da morte. A verdade é que a América, em suas raízes, é uma mistura harmoniosa de valores humanistas e deístas, “concebida em liberdade, e dedicada à proposição de que todos os homens foram criados iguais.” No decorrer da história, desde os fundadores até hoje, é construída, nas palavras do discurso de posse de Kennedy, “sobre a crença de que nossos direitos não vêm do governo, mas de D'us.” O professor de Harvard Eric Nelson argumenta em seu último livro “A Republica Hebraica: fontes judaicas e a transformação do pensamento europeu”, que não apenas a América é herdeira desses valores; estas são as ideias que deram origem a tudo que consideramos mais benéfico na civilização ocidental. É dentro desse harmonioso dueto de D'us e homem, Divino e terreno, transcendente e vida, é ali que surgem os heróis – aqueles que colocam a vida em risco porque valorizam os direitos e a vida dos outros, como fizeram nossos pais e avós quando cruzaram o Atlântico para lutar contra o exército mais forte do mundo para que pudéssemos viver num mundo livre. Se queremos todos ser heróis, se ousaremos preservar nossa preciosa liberdade perante o massacre daqueles que clamam abertamente pela sua destruição, se enfrentaremos com coragem como aquelas gerações anteriores fizeram por nós, para que nossos filhos possam viver num mundo livre, precisamos não morrer fazendo isso. Precisamos apenas fortalecer os alicerces sobre os quais esses direitos estão baseados, a harmonia de D'us e da humanidade que Abraham, o pai de todos nós, primeiro trouxe ao mundo. |
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segunda-feira, 12 de setembro de 2011
11 de setembro – 10 anos depois
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