| O último dos Dez Mandamentos diz: “Não cobiçarás a mulher do teu vizinho; não cobiçarás a casa do teu vizinho, nem seu campo, nem seu servo, nem sua serva, nem seu boi, nem seu burro, nem coisa alguma que pertence a teu vizinho.” (Devarim 5:17, Shemot 20:14).
A estrutura do versículo parece estranha. No início, a Torá especifica sete coisas que não devemos cobiçar: “Não cobiçarás a mulher do teu vizinho; não cobiçarás a casa do teu vizinho, nem seu campo, nem seu servo, nem sua serva, nem seu boi, nem seu burro.” Mas então, na conclusão do versículo, a Torá declara: “Nem coisa alguma que pertence ao teu vizinho.”
Por que a redundância desnecessária? Por que não declarar apenas no início “Não cobiçarás nada que pertence ao teu vizinho,” o que incluiria todos os especificados?
E se a Torá não deseja confiar em generalizações, por que especifica apenas uns poucos itens e então de qualquer maneira reverte à generalização: “E coisa alguma que pertence ao teu vizinho?”
Uma História Holística
Em hebraico, a palavra empregada para “alguma coisa” e “tudo” é idêntica, “Kol”. Portanto, o versículo acima também pode ser traduzido como “Não cobiçarás a mulher do teu vizinho; não cobiçarás a casa do teu vizinho, nem seu campo, nem seu servo, nem sua serva, nem seu boi, nem seu burro, e tudo que pertence ao teu vizinho.” Ao concluir o versículo com essas palavras, a Torá não está apenas nos instruindo a não cobiçar coisa alguma do nosso vizinho, mas também nos ajudando a atingir este difícil estado de conscientização.
Como se poderia exigir de uma pessoa que não seja invejosa? Quando entro em sua casa e observo as suas condições de vida, seus carros, suas contas bancárias e seu estilo de vida em geral, como eu poderia não ficar invejoso?
A resposta é: “Não cobice tudo que pertence ao seu vizinho.” O que a Torá está nos intimando a fazer é que de fato é fácil invejar a casa e a mulher do vizinho, seus servos, seu boi e seu burro; porém a pergunta que você tem de fazer a si mesmo é: você cobiça “tudo que pertence ao seu vizinho?” Você está preparado para assumir completamente a vida dele? A realmente transformar-se nele?
Você não pode ver a vida como centenas de eventos e experiências desconectados. Não pode se ligar a um aspecto da vida de alguém e declarar: “Eu gostaria de ter o casamento dele (ou dela), sua casa, sua carreira, seu dinheiro…” A vida é uma experiência integrada e holística. Cada vida, com suas bênçãos e desafios, com seus obstáculos e oportunidades, constitui uma história única, uma narrativa que começa com o nascimento e termina com a morte.
Toda experiência em nossa vida representa um capítulo de nossa história única, singular, e não temos o luxo de desconectar um capítulo da história de alguém sem abraçar a jornada inteira da sua vida.
Quando você isola apenas uns poucos aspectos da vida de outra pessoa, é natural ficar invejoso. Mas quando se torna consciente de “tudo que pertence ao teu vizinho”, sua percepção é alterada. Você deseja realmente adquirir tudo que está acontecendo na vida dele ou dela?
Portanto, na próxima vez em que sentir-se cobiçando a vida do outro, pergunte a si mesmo se você realmente quer se tornar aquela pessoa. |
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