quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Cabala para pops stars????


Uma entrevista com Rabino Adin Even Yisrael Steinsatz por Fay Kranz Greene sobre o livro recém publicado, "Abra o Tanya: Descobrindo os ensinamentos místicos e morais de uma obra clássica da Cabala"

Por favor, diga-nos que esta não é a Cabalá de Madonna.


Pessoalmente, não sou muito por esta nova tendência da Cabalá, penso que é barata e representa um perigo. Não que as pessoas estejam aprendendo Cabalá demais, mas estão se concentrando apenas no mistério, segredo e magia, e não enfocam como as pessoas deveriam mudar ou se tornar mais judias. A Cabalá não é um truque, é algo sagrado e sério, e precisa muito mais que uma tintura de conhecimento. Imagine fazer um curso de neurocirurgia em seis meses e colocar uma placa na porta. Não somente é fraudulento, como também perigoso.

Por que a Cabalá se tornou tão "fashion" e o que isso diz sobre a nossa cultura?

É popular atualmente porque a magia é algo notável, é New Age, utiliza uma linguagem diferente e uma fórmula diferente, que as pessoas não entendem e por isso mesmo acham fascinante. É interessante que os livros mais vendidos atualmente sejam livros de receitas e sobre magia e espiritualidade. Eles estão conectados: é a idéia de que você pode confiar em algo espiritual, e não precisa se esforçar muito para mudar a si mesmo.

Alguns diriam que ler o Tanya é a mesma coisa.

Não, não é o mesmo, porque o Tanya não torna a vida mais fácil para ninguém. Você não pode pronunciar uma palavra e ser simplesmente salvo. É um livro muito exigente e algumas pessoas chegaram a me dizer que é um livro assustador. Suas expectativas mínimas são muito mais altas que qualquer um pode atingir.

Então, diga-nos alguma coisa sobre "Opening the Tanya" e por que é diferente dos outros livros que já escreveu sobre esta obra.

Os outros comentários sobre o Tanya, incluindo meu próprio livro, The Long, Shorter Way, dão um resumo dos conceitos básicos. Mas este é um livro para estudo, não para leitura. É bastante detalhado e o texto inteiro está aqui. Creio, no entanto, que é um livro muito legível.

Na introdução, você escreve que o Tanya é o Livro de Beinonim, a pessoa intermediária que não peca em ação, palavra ou pensamento, embora o potencial ali esteja. Se uma pessoa comum realmente aprendeu o Tanya e estuda mesmo o seu livro, ele ou ela pode realmente atingir aquele nível?

O beinoni difere do tsadic, a pessoa completamente justa, no sentido que o beinoni tem conflito. Ter conflitos, dúvidas e incertezas não faz de você uma pessoa má. Esta é a idéia principal do Tanya; mesmo que você tenha problemas, pode chegar lá. Um tsadic, por outro lado, é inato, não feito. Porém para a maioria de nós que não nascemos tsadikim, o Tanya nos diz que podemos fazer muito bem neste mundo se não desistirmos; se lutarmos para canalizar adequadamente nossas fraquezas pessoais, nossas emoções, desejos, os conflitos da vida diária.

Qualquer pessoa pode aspirar ser um beinoni, mas a questão é se todos se tornarão um. Se você comprar um livro sobre preparo físico, presume-se que se você se exercitar corretamente e comer de acordo terá um corpo mais apto. Mas você ficará igual à pessoa na capa do livro? Nem sempre! Se você se esforçar, terá uma chance. Alguns se tornarão Mr. América e outros acharão mais fácil subir escadas.

Você cita a declaração que o Alter Rebe, autor do Tanya, podia "colocar um D’us tão grande num livro tão pequeno." O que aprendemos sobre D’us com o Tanya que não soubéssemos antes?

Aprendemos muitas coisas porque geralmente, quando as pessoas falam sobre D’us, falam de sua percepção de D’us num nível muito básico.

Pense sobre isso. Quando as pessoas dizem que perderam a fé, é porque, para início de conversa, a fé no início era muito fraca para suportar quaisquer desafios. Quando sua percepção de D’us não se estende além de um nível básico, você não pode lidar com eles efetivamente quando cresce. Nós basicamente descobrimos que pessoas que foram como devotas para os campos de concentração permaneceram devotas e vice-versa. A segunda parte do Tanya, Shaar Hayichud, trata do entendimento de D’us. Não que você chegará a conhecer D’us, mas pelo menos terá uma ordem de magnitude. É um termo matemático. Se você está falando sobre algo caro, que tipo de magnitude é, centenas ou milhões? Uma pessoa que aprende o Tanya chega a uma ordem diferente em sua percepção de D’us.

E indo pelo mesmo caminho, o que encontramos no Tanya que muda ou amplia nossa visão sobre os seres humanos e como eles se relacionam com D’us em geral?

Você aprende muito sobre os seres humanos porque o Tanya lida com pessoas que são bem formadas, constantemente mudando, ainda não prontas. O Tanya faz as perguntas difíceis. Quais são as qualidades básicas no interior das pessoas? Como posso mudar? Como lido com as falhas dos outros? Ironicamente, o Tanya lida com os conceitos humanos em vez dos rituais, como você entende a si mesmo e aos outros. Em última análise, você tem uma noção melhor daquilo que D’us espera de você. Não é a imagem do velho com ou sem barba, sentado no céu e distribuindo balas para os bons meninos e surras para os maus. Você recebe uma versão adulta.

E finalmente, qual é a mensagem que você gostaria que seus escritos e discursos transmitissem? Você tem um sonho que gostaria de viver?

Onde quer que você esteja, dê um passo para a frente. Esta é a minha mensagem. Meu sonho é que ele será realizado e as pessoas o farão. Quando alguém dá um passo para a frente, é pessoal – quando um milhão de pessoas dão um passo à frente, então a terra estremece.


Rabi Adin Even-Yisrael Steinsaltz, escritor, erudito e crítico social, é mais conhecido pela sua monumental tradução e comentário sobre o Talmud.

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