segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Amanhãs

por Rabino Michel Twerski
Durante uma recente excursão, fiquei surpreso ao ver-me cercado por um mar de "amanhãs". Não, não se tratava de uma visita a uma maternidade, nem à classe do maternal de uma escola, onde o brilhante potencial de crianças pequenas nos proporciona um tangível sendo do "amanhã", i.e., o futuro, vital e promissor. Embora seja verdade que eu sempre sinta o entusiasmo do "amanhã" quando estou com os pequeninos, a sensação que estou descrevendo vinha exatamente do lado oposto do espectro - o cemitério.

Todas juntas, as pedras tumulares contam a história de amanhãs que jamais virão, e juntos, muitos de nós estamos esboçando epitáfios similares para nós mesmos.

Meus deveres oficiais como rabino de uma comunidade levam-me, mais vezes do que eu gostaria, aos silenciosos campos onde as gerações que nos precederam foram para descansar. Se a pessoa olha em torno e escuta atentamente o sossego, há uma inquietante consciência de uma multiplicidade de (na falta de uma palavra melhor) "amanhãs" - uma profusão de coisas que poderiam ter sido, deveriam ter sido, talvez fossem, teriam sido... mas para "amanhã."
Tendo crescido em Milwaukee, e trabalhado por 40 anos no rabinato, consigo olhar em torno, não importa qual o cemitério que estou visitando, e reconhecer muitos nomes familiares, pessoas de quem me recordo da minha infância ou depois. Muitas vidas vividas em grande distinção. Os restantes, em geral, foram cidadãos de bem, devotados à família e à comunidade, judeus que deixaram um legado de trabalho e integridade. É por este último grupo que fico tão entristecido. Porque não apenas me lembro de quem foram, mas de quem poderiam ter sido, se não tivessem dissipado seus "hojes" em troca de seus "amanhãs".
É claro que todos fazemos isso; a procrastinação é tão antiga quando a própria humanidade. Porém o mero dilúvio daquilo que o passado adiou para "amanhã" elevou-se como uma densa névoa sobre o campo, lançando uma sombra pesada e longa sobre o solo.
Minhas reflexões levaram-me de volta ao presente, à família, meus amigos, e a mim mesmo. Cada um de nós tem muitas coisas que preza e espera realizar durante a vida. Invariavelmente, são conquistas importantes, do tipo que se constitui em legados duradouros. O que fazemos sobre estas aspirações? Adiamos para "amanhã" - é claro! Hoje estamos muito ocupados, muito sobrecarregados, e muito exigentes. Com uma constância infalível, amanhã será um outro hoje, repleto e agitado com exigências que descaradamente se recusam a ser adiadas.
Pateticamente, as eternas verdades da vida, aquelas que deveriam clamar por nossa atenção e insistir para serem reconhecidas, esperam silenciosa e pacientemente nas alas de nossa consciência, para serem finalmente convertidas no tecido vivo da existência. Todas juntas, as pedras tumulares contam a história de amanhãs que jamais virão, e juntos, muitos de nós estamos esboçando epitáfios similares para nós mesmos.
O início de um novo ano representa uma oportunidade única para transformar nossos "amanhãs" em "hojes", assumindo o sério compromisso de conquistar as metas que julgamos sagradas. Fazer "o primeiro em primeiro lugar" nos possibilitará sentir a energia de estar vivo e tornar realidade a liberação de nosso potencial.
Em minha lista pessoal para o ano que já se iniciou, o "hoje" está no primeiro lugar da lista. Gostaria de insistir respeitosamente para que cada um refletisse sobre as muitas bênçãos que nos alcançarão se tivermos a tenacidade e a determinação para transformar nossos "amanhãs" em "hojes".

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