quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Shemót

Nesta semana iniciamos a leitura de Shemót, o segundo livro da Torá. Seu nome grego, Êxodo, talvez faça mais jus ao assunto majoritariamente tratado nele: a saída do povo hebreu do Egito.

Na parashá acompanhamos o início da grande epopeia bíblica, talvez a mais famosa das histórias do Tanach: após a morte de Yossêf, o povo hebreu se multiplicou enormemente no Egito.

Após algum tempo, um novo faraó, que não conheceu Yossêf, temeroso de que os hebreus se levantassem para tomar o trono egípcio, ou que se juntassem aos inimigos do Egito para conquistá-lo, decretou a morte de todo menino recém-nascido, com o objetivo de conter o crescimento populacional hebreu.

Embora a Torá deixe claro esta preocupação do faraó, o Midrash Shemót Rabá conta que o rei egípcio havia sido avisado por seus astrólogos que entre os recém-nascidos encontrava-se aquele que libertaria os israelitas da escravidão.

Cecil B. De Mille, em seu clássico Os Dez Mandamentos, coloca esta como uma das primeiras cenas de seu filme. É natural que o midrash dê mais material para Hollywood do que a Torá. Quem conhece bem o texto bíblico percebe inúmeros outros midrashím no decorrer da grande obra de 1956.

Isso fica claro nos créditos de abertura: “Aquele que assistir a este filme fará uma peregrinação pelas terras que Moisés percorreu há mais de 3000 anos, conforme os antigos textos de Filo, Josefo, Eusébio, do Midrash e das Sagradas Escrituras”.

Podemos nos orgulhar de nossa tradição por sermos um povo que não busca somente a literalidade em seu livro sagrado, mas que participa dele, em uma constante construção e recriação do texto.

Em cada geração reinterpretamos as vozes e os silêncios da Torá, modificamos os significados de suas histórias, criamos narrativas paralelas para dar coesão ao texto bíblico, base de nossa língua comum, de nossa identidade histórica e geográfica, de nossas ações, de nossas crenças e descrenças.

Muito antes de Hollywood nossos sábios já utilizavam a liberdade artística, imortalizando suas percepções pessoais e suas fés individuais.

De Mille quis que a voz de Deus fosse a de Charlton Heston, o próprio Moisés. Em O Príncipe do Egito, os diretores vislumbraram uma voz divina ao mesmo tempo forte e suave, masculina e femina, uma dupla voz que ecoa em uníssono, bedibúr echád. Nolan preferiu que a voz do Criador saísse dos lábios de uma criança (às vezes birrenta) que andava e vivia no meio de Seu povo.

Quem era Deus para Moisés, para De Mille, para Nolan, para Chapman, Wells e Hickner? E quem é Ele para cada um de nós? E Ele mesmo nos responde: “Serei Aquilo que Serei” (Ex 3:14).

Shabat Shalom
Moré Theo Hotz


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